14.3.16

Day One of Twenty Two-Thousand

As piores “despedidas” são sempre as inesperadas, that you didnt saw it coming, aquelas que por mais te que esforces para evitar até que olhas para ao lado e já deixas de ter ao redor pessoas que significavam tanto num certo período de tempo e que por razões que a cada um cabe conhecer se afastaram ou tomaram saídas diferentes naquelas rotundas tão bem conhecidas (os chamados lugares comuns, por assim dizer) e tu pura e simplesmente não conseguiste acompanhar ou perceber a tempo o inevitável que é isto de nos cruzarmos e descruzarmos, de nos aproximarmos e subitamente afastarmo-nos como campos magnéticos ou pequenos planetas que orbitam randomly e são puxados pela energia quente de estrelas novas, interessantíssimas, ainda por descobrir, que nascem por aí. Somos o que somos com as pessoas que nos acompanham na aventura que cada um temos só nossa, onde somos os protagonistas mesmo sem termos praticamente controlo nenhum sobre o que futuro nos reserva, apesar de infantilmente acharmos que podemos ser senhores do destino quando pesamos os prós e contras de tomar determinada decisão e aceitamos ou não viver com os efeitos da mesma. Associo a vida como estarmos a ler o livro desta aventura de cada um em tempo real, em que sentimos, vivenciamos mentalmente em tempo real por tudo aquilo que o herói atravessa, em que vivenciamos também as histórias dos outros mesmo que seja brevemente ou como espectador na primeira fila vendo a representação cinematográfica, em que imaginamos qual será o culminar daquele percurso quando mal sabemos que no virar da página aquele ponto final possa ser o nosso, ou até nem seja um ponto final, que só nos reste uma vírgula, uma súbita paragem que deixa a historia interrompida, quando existiam ainda tantas palavras por dizer, tantos capítulos por contar, porque nem todos podemos ter o luxo de ter essa sorte.
 
Acredito que seja por isso que praticamente tudo o que temos na vida seja passageiro, que de repente gostemos de umas coisas mas que depois não pareçam assim tão interessantes porque descobrimos algo novo que somos bons a fazer, ou não imaginávamos vir a gostar e até sinto que tenho sorte por pertencer a uma geração que tem o privilégio de resolver a vida de acordo com isso, de poder dizer que não estou preso a uma carreira durante a minha vida inteira e que posso mudar, evoluir para outra coisa qualquer quando sentir que determinada função já não me preenche, não me desafia, não me dá motivos para me levantar da cama todos os dias com um sorriso na cara por amar o que faço. Só não digo que é tudo passageiro porque tu sabes que algumas coisas nunca mudam e algumas pessoas nunca perdes porque já fazem parte de ti, no matter what. Desde novo que nunca tive uma relação normal com o ter que me despedir de alguém. Já fui forçado a mudar para a outra margem do rio Tejo e perder praticamente todos os amigos de infância até então, mas era novo, na altura foi fácil fazer novos amigos, agir como uma oportunidade de recomeço e como era possível continuar a ser feliz com o que tinha, mesmo vendo aquelas relações mega duradouras que eu ainda não tinha por ter deixado tudo para trás, e talvez seja por isso que quando as primeiras desilusões e rupturas a sério apareceram as tenha sentido demasiado, quase como se me arrancassem o coração do peito ou tivesse a ser submetido a mil cortes ao mesmo tempo. Talvez seja por isso que consiga ter tanta empatia, por saber o que existe do outro lado da dor e não o desejar a ninguém, porque só depois de perdermos tudo é que sabemos o quão dispostos estamos a ir para nos mantermos nós mesmos, para conseguirmos continuar a acreditar que tudo isto faz parte de um plano maior e que aquele não era o ponto final da nossa história. Talvez tenha sido por isso que por mais que a reação instintiva fosse fechar o coração ao mundo enquanto tratava dos remendos a faculdade me tenha dado uma oportunidade do abrir confiando que aquele abismo não voltaria nunca desde que me mantivesse inteiro por mim mesmo e parasse de usar os outros como pilares ou bases da fundação, talvez o erro afinal tenha sido esse desde o inicio. 

Depois percebes claro que quanto mais vais crescendo, mais estas despedidas inesperadas acontecem, quanto mais adulto e ocupado ficas mais entendes que alguns percursos só são destinados a serem paralelos durante algum tempo, alguns são direções contrárias aquilo que tu queres, temos direito a alguns erros de percurso e alguns vão se encontrando aqui e ali, quando focas nas coisas que realmente importam e sabes que podem estar quilómetros separados mas apenas a uma chamada de distância. E percebes que não tens de te sentir culpado por pensares em ti, por já seres capaz de perceber o que é melhor para ti e como não precisas de manter TODA a gente ao teu redor para continuares a ser quem és, que enquanto a relação for de mutua forma de crescimento irá existir, e quando for altura de perceberes que tudo o que tinhas a retirar e aprender já se completou, já não sentirás vontade de guardar rancor e apesar de te entristecer, de por alguns momentos vacilares e te doer como o caralho recordar de certas coisas ou pensares em tudo aquilo que ficou por dizer, ou sobre todas as alternativas que aquela relação podia ter tomado, perceberás que nunca podemos manter alguém contra a sua vontade onde está e tu próprio nunca admitirias que exigissem isso de ti. Claro que dói, se significou algo irá doer sempre, irá doer sempre que olhares para essa pessoa mas irá doer menos, irá doer muito menos quando vires o quanto essa pessoa está feliz e o quanto tu estás melhor, de como apesar de tudo o que possas perder além de ti mesmo a tua história continuou, te trouxe mais momentos que tu talvez julgaste que nunca aconteceriam com mais ninguém, mas basta estares aberto a isso. E o grande segredo é que nunca saberás a importância dos momentos enquanto os estás a viver, só depois, bem depois, quando pensares na pessoa e em tudo o que nela te faz feliz, em todos os motivos para considerar aquela pessoa um irmão ou a tua alma gémea e te aperceberes que, afinal, apesar de todas as despedidas inesperadas que tivemos de fazer para chegarmos onde estamos, que estamos onde sempre estivemos destinados a estar. Por isso aproveita, sem prazos, sem o medo à espreita se terás ou não de te despedir eventualmente, porque se tiver que acontecer irá acontecer independentemente do quanto lutes para o evitar e irás ficar preso ao arrependimento do “e se…” se não aproveitares ao máximo tudo o que essa etapa te tenha para dar.  And by the way, nem tudo precisa ser sobre despedidas, algumas coisas simplesmente ficam abertas, indefinidas para nos dar a liberdade de revisitar sempre que precisarmos com a alegria de sentirmos que pouco mudou, mesmo que se tenham passado anos.

Conselho de quem é péssimo em despedidas, que tem uma dificuldade tremenda em aceitar mudanças e que sofre sempre que sente que poderá já estar a perder algo que um dia lhe significou praticamente tudo, mas que agora percebe que tudo o que podes desejar é que todos à tua volta sejam masé felizes, e que se for contigo ao seu lado, melhor.