Acredito que seja por isso que
praticamente tudo o que temos na vida seja passageiro, que de repente gostemos
de umas coisas mas que depois não pareçam assim tão interessantes porque
descobrimos algo novo que somos bons a fazer, ou não imaginávamos vir a gostar
e até sinto que tenho sorte por pertencer a uma geração que tem o privilégio de
resolver a vida de acordo com isso, de poder dizer que não estou preso a uma
carreira durante a minha vida inteira e que posso mudar, evoluir para outra
coisa qualquer quando sentir que determinada função já não me preenche, não me
desafia, não me dá motivos para me levantar da cama todos os dias com um
sorriso na cara por amar o que faço. Só não digo que é tudo passageiro porque tu sabes que algumas coisas nunca mudam e
algumas pessoas nunca perdes porque já fazem parte de ti, no matter what. Desde
novo que nunca tive uma relação normal com o ter que me despedir de alguém. Já
fui forçado a mudar para a outra margem do rio Tejo e perder praticamente todos
os amigos de infância até então, mas era novo, na altura foi fácil fazer novos
amigos, agir como uma oportunidade de recomeço e como era possível continuar a
ser feliz com o que tinha, mesmo vendo aquelas relações mega duradouras que eu
ainda não tinha por ter deixado tudo para trás, e talvez seja por isso que
quando as primeiras desilusões e rupturas a sério apareceram as tenha sentido
demasiado, quase como se me arrancassem o coração do peito ou tivesse a ser
submetido a mil cortes ao mesmo tempo. Talvez seja por isso que consiga ter
tanta empatia, por saber o que existe do outro lado da dor e não o desejar a
ninguém, porque só depois de perdermos
tudo é que sabemos o quão dispostos estamos a ir para nos mantermos nós mesmos,
para conseguirmos continuar a acreditar que tudo isto faz parte de um plano
maior e que aquele não era o ponto final da nossa história. Talvez tenha sido
por isso que por mais que a reação instintiva fosse fechar o coração ao mundo
enquanto tratava dos remendos a faculdade me tenha dado uma oportunidade do
abrir confiando que aquele abismo não voltaria nunca desde que me mantivesse
inteiro por mim mesmo e parasse de usar os outros como pilares ou bases da
fundação, talvez o erro afinal tenha sido esse desde o inicio.
Depois percebes claro que quanto
mais vais crescendo, mais estas despedidas inesperadas acontecem, quanto mais
adulto e ocupado ficas mais entendes que alguns percursos só são destinados a
serem paralelos durante algum tempo, alguns são direções contrárias aquilo que
tu queres, temos direito a alguns erros de percurso e alguns vão se encontrando
aqui e ali, quando focas nas coisas que realmente importam e sabes que podem
estar quilómetros separados mas apenas a uma chamada de distância. E percebes
que não tens de te sentir culpado por pensares em ti, por já seres capaz de
perceber o que é melhor para ti e como não
precisas de manter TODA a gente ao teu redor para continuares a ser quem és,
que enquanto a relação for de mutua forma de crescimento irá existir, e quando
for altura de perceberes que tudo o que tinhas a retirar e aprender já se completou,
já não sentirás vontade de guardar rancor e apesar de te entristecer, de por
alguns momentos vacilares e te doer como o caralho recordar de certas coisas ou
pensares em tudo aquilo que ficou por dizer, ou sobre todas as alternativas que
aquela relação podia ter tomado, perceberás que nunca podemos manter alguém
contra a sua vontade onde está e tu próprio nunca admitirias que exigissem isso
de ti. Claro que dói, se significou algo irá doer sempre, irá doer sempre que
olhares para essa pessoa mas irá doer menos, irá doer muito menos quando vires
o quanto essa pessoa está feliz e o quanto tu estás melhor, de como apesar de tudo o que possas perder
além de ti mesmo a tua história continuou, te trouxe mais momentos que tu
talvez julgaste que nunca aconteceriam com mais ninguém, mas basta estares
aberto a isso. E o grande segredo é que nunca saberás a importância dos
momentos enquanto os estás a viver, só depois, bem depois, quando pensares na
pessoa e em tudo o que nela te faz feliz, em todos os motivos para considerar
aquela pessoa um irmão ou a tua alma gémea e te aperceberes que, afinal, apesar
de todas as despedidas inesperadas que tivemos de fazer para chegarmos onde
estamos, que estamos onde sempre estivemos destinados a estar. Por isso
aproveita, sem prazos, sem o medo à espreita se terás ou não de te despedir
eventualmente, porque se tiver que
acontecer irá acontecer independentemente do quanto lutes para o evitar e
irás ficar preso ao arrependimento do “e se…” se não aproveitares ao máximo
tudo o que essa etapa te tenha para dar. And by the way, nem tudo precisa ser sobre despedidas, algumas coisas simplesmente ficam abertas, indefinidas para nos dar a liberdade de
revisitar sempre que precisarmos com a alegria de sentirmos que pouco mudou,
mesmo que se tenham passado anos.
Conselho de quem é péssimo em
despedidas, que tem uma dificuldade tremenda em aceitar mudanças e que sofre
sempre que sente que poderá já estar a perder algo que um dia lhe significou
praticamente tudo, mas que agora percebe que tudo o que podes desejar é que todos à tua volta sejam masé felizes, e
que se for contigo ao seu lado, melhor.