9.8.11

Final Chapter.

Tu és o exemplo perfeito dos assuntos que julgamos enterrados e que sobrevoam o nosso coração durante horas, dias, semanas até que por acaso nos lembremos deles novamente. Tento ser forte e seguir em frente, mas há dias que o meu subconsciente consegue ultrapassar qualquer barreira e traz-me recordações tão antigas e felizes que não creio que tenham sido mesmo reais. Podes me perguntar o porquê de apenas querer recordar as más recordações que tenho de ti em vez das boas, mas são as boas que me agonizam e destróiem por dentro, são tempos que já não voltam e as cenas terríveis ao menos conseguem anular tudo o resto. Ainda espero o dia em que finalmente me terei desligado de ti, o dia em que poderei respirar e chamar-te apenas "passado", porque já não é isso que tu me chamas?
Tenho medo, medo de esquecer a tua voz, as tuas gargalhadas, as palavras que em certas alturas me pareceram tão sábias, a tua personalidade incomum e o teu feitio tão inconfundível. E é apenas este receio idiota que me mantém ligado a ti, de uma forma que parece inquebrável e que só dilacera um dos lados. Sim, eu guardo as más recordações de ti por uma razão apenas: são as únicas provas que tenho para arranjar uma razão para tudo ter acabado como acabou. E de ti já só recebo palavras mudas e silêncios constantes.
Não, não te escrevo para pedir apenas respostas, respostas essas que nunca tive e que fazem tanta falta. Não gosto de assuntos pendentes, e não te queria adiar mais na minha vida. Nunca sabemos quando tudo termina, onde colocar "fim" no final de uma história, onde marcar um ponto final no fim de um capítulo. Talvez nunca acabe esta carta, talvez nunca a recebas, talvez não ta envie. Tantos talvez encruzilhados nestas cenas que um dia chamei "vida", história essa que é tão curta e mesmo assim tens direito à maioria dos capítulos só para ti. Sim , talvez tenha tido uma vida antes, durante e agora após a tua presença, talvez te tenha amado com todas as letras e sentimentos, talvez em alguns momentos o tenhas percebido. Sim, tu sempre foste muito astuta, porque não entenderias este quebra-cabeças que tantas vezes te enviei sem saber? Talvez tenhas fugido por causa disso. Vês? Deixaste-me com tantos "ses" e "talvez" que me custa acreditar que por uns anos estiveste aqui tão perto e agora estás tão longe que não te alcanço mesmo que mova o mundo. Custa-me que continues a afectar-me desta maneira, com os pesadelos e tudo o que mais daí vem, e já me cansei, cansei de lutar por uma história que já conheceu o fim e só resta o pó para a contar.
Talvez tenha sido demasiado estúpido em pensar que algum dia teríamos algo, nunca estivemos destinados a ser e lutar contra isso só nos destrói. Ainda tenho de viver nos cacos que me deixaste, sempre foste mais do que julgaste ser, coloquei-te num papel que não sabes representar e daí à ruína é só um passo. Tu podias ter sido o meu fim, mas ainda estou aqui, já depois da fase em que me portei como um morto vivo à tua espera. Tu eras tudo na minha vida, tudo: mas agora és apenas o "tudo" que me faz mal, tornaste-te tóxico e já não posso continuar ligado a um fantasma vazio que não voltará. Sim, foste como um manual de instruções para o mundo que me espera lá fora...
Não me quero lembrar do teu nome, tu és como uma praga que se contagia quando se pronúncia a palavra. Sim, eu ainda me lembro do teu dia de anos, do teu perfume preferido, dos teus gostos e aqueles filmes que tu tanto gostas de ver. Sim, eu estudei-te e conheci-te como talvez nunca ninguém o fará, e mesmo que não queira sei o teu nome de trás para a frente, e só não o pronúncio porque não vá ser como um código automático de uma bomba que injectaste no meu coração.
E agora está na hora de ir, nunca sabemos onde a vida nos leva não é verdade? Talvez te volte a ver um dia.